quinta-feira, 11 de abril de 2024

autodestruição_treze_-_são_carlos

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Essa carta irá explodir em cinco minutos.
E então o tempo conceitual irá se transformar em visual,
e sua percepção será diferente.
Irá se comportar como uma quarta dimensão
e iremos todos pularmos dos hipercubos
em busca da glória atemporal.
A glória será etérea e efêmera,
e mesmo assim, eterna.
O tempo e o tempo irão lutar entre si
pelo domínio da quarta dimensão ótica.
E quanto o tempo, enfim,
vencer o tempo,
iremos juntos num musgado de maconha e LSD
filosofar com John Earman
no meio do quinto buraco do tempo dessas nossas pequenas dimensões.

Essa carta irá explodir em quatro minutos.
A explosão será regada das cores:
vermelho, rosa, laranja, roxo, mel, fiapo, manhã-de-domingo e amarelo.
As cores irão ser intensas,
pintadas cuidadosamente nas costas de um guerreiro na Amazônia,
enquanto dançamos em volta do sangue do nosso amante em comum.
Iremos comemorar as cores até elas desaparecerem em um breu lunar.
A lua é uma amante de uma cor só,
a ela apenas o vermelho do sangue.
Sua paixão pelo vermelho é maior que a extensão do Rio Amarelo,
mas não mais importante.
Quando o breu chegar, iremos nos esconder nas cores quentes
e usar as frias para sugar nossas almas.

Essa carta irá explodir em três minutos.
E quando assim for todas as fantasias que desejarmos será transformado em verdades concretas,
assim como todo concretismo indesejado se transformará em uma memória falsa.
Poderemos viver de maneira plena na comuna lésbica em Marte da Grimes.
Os poetas fracassados de todos os plantões noturnos nas cidades interioranas de São Paulo
irão viver sua máxima artística,
todos os agricultores do lar teriam suas terras de volta,
todas as crianças abusadas teriam, novamente, a oportunidade de brincar
livremente nos pastos do planeta vermelho.
Mas tome cuidado com o que deseja, minha pequena Alice.
Se todos os sonhos forem verdades,
não sobraria nenhum.
E não há homem nessa terra que já tenha vivido sem sonhar.
Nem criança, nem mulher,
nem aqueles que sonham além dos binarismos contextualizados e papéis sociais dados.

Essa carta irá explodir em dois minutos.
Acredite em mim, não tenha medo.
Segure minha mão enquanto descobrimos os segredos do outro lado da realidade.
Iremos para onde tudo é calmo e tudo é bom.
Onde a moralidade, que se divide entre o divino bom e o maldito mal
irá se dissipar em uma concepção neutra.
E assim, quando acontecer, irá nascer a necessidade de uma nova moral
baseada nos nossos sentimentos novos do outro lado da linha do trem.
Iremos conhecer essa bondosa senhora chamada Alice Silva Prado,
ela nos ensinará a cura pelas ervas medicinais.
Irá também contar histórias da infância no campo,
das bonecas de palha,
das fugas do Saci-Pererê,
dos cavalos
e das plantações de café.
Eu nunca tive nenhuma conversa longa ou densa com ela,
mas confio que ela seja uma mulher com uma vida muito interessante para contar.

Essa carta irá explodir em um minuto.
Não tenha medo do vácuo, é de onde viemos.
Ele nos acolhe como uma mãe,
nos guia como um pai.
Seu abraço é frio, mas completo.
Sua completude pode parecer enorme,
mas confie em mim,
é do mesmo tamanho para mim, para você, para uma formiga, para um pássaro ou um mamute.
Não apresse sua chegada,
é uma dama que chega exatamente no horário combinado.
Nem tarde, nem cedo.
Os abismos em seus olhos possam assustas,
às vezes,
mas pode ser um conforto.
Não faz dela um monstro ou uma dor.
Não tenha medo, ela virá de qualquer jeito.
É passiva é atenciosa.
Ouve-te como ninguém jamais ouviu.
Não a irrite, ela não gosta de insistências.
Gosta que chegue a seus braços com graça e delicadeza.
Ela tem o porte de um cavalheiro,
não gosta de ser abordado, gosta de abordar.
Não fique em luto com seus presentes, não se apavore com sua presença.

Essa carta está explodindo. Bem-vindo.