_-___
Essa carta irá explodir em cinco minutos.
E então o tempo conceitual irá se transformar em visual,
e sua percepção será
diferente.
Irá se comportar como uma quarta dimensão
e iremos todos pularmos
dos hipercubos
em busca da glória atemporal.
A glória será etérea e efêmera,
e
mesmo assim, eterna.
O tempo e o tempo irão lutar entre si
pelo domínio da
quarta dimensão ótica.
E quanto o tempo, enfim,
vencer o tempo,
iremos juntos
num musgado de maconha e LSD
filosofar com John Earman
no meio do quinto buraco
do tempo dessas nossas pequenas dimensões.
Essa carta irá explodir em quatro
minutos.
A explosão será regada das cores:
vermelho, rosa, laranja, roxo, mel,
fiapo, manhã-de-domingo e amarelo.
As cores irão ser intensas,
pintadas
cuidadosamente nas costas de um guerreiro na Amazônia,
enquanto dançamos em
volta do sangue do nosso amante em comum.
Iremos comemorar as cores até elas
desaparecerem em um breu lunar.
A lua é uma amante de uma cor só,
a ela apenas
o vermelho do sangue.
Sua paixão pelo vermelho é maior que a extensão do Rio
Amarelo,
mas não mais importante.
Quando o breu chegar, iremos nos esconder nas
cores quentes
e usar as frias para sugar nossas almas.
Essa carta irá explodir em três minutos.
E quando assim for todas as fantasias que desejarmos será transformado em
verdades concretas,
assim como todo concretismo indesejado se transformará em
uma memória falsa.
Poderemos viver de maneira plena na comuna lésbica em Marte da Grimes.
Os poetas fracassados de todos os plantões noturnos nas cidades interioranas de
São Paulo
irão viver sua máxima artística,
todos os agricultores do lar teriam
suas terras de volta,
todas as crianças abusadas teriam, novamente, a oportunidade
de brincar
livremente nos pastos do planeta vermelho.
Mas tome cuidado com o
que deseja, minha pequena Alice.
Se todos os sonhos forem verdades,
não
sobraria nenhum.
E não há homem nessa terra que já tenha vivido sem sonhar.
Nem
criança, nem mulher,
nem aqueles que sonham além dos binarismos
contextualizados e papéis sociais dados.
Essa carta irá explodir em dois minutos.
Acredite em mim, não tenha medo.
Segure minha mão enquanto descobrimos os
segredos do outro lado da realidade.
Iremos para onde tudo é calmo e tudo é
bom.
Onde a moralidade, que se divide entre o divino bom e o maldito mal
irá se
dissipar em uma concepção neutra.
E assim, quando acontecer, irá nascer a
necessidade de uma nova moral
baseada nos nossos sentimentos novos do outro
lado da linha do trem.
Iremos conhecer essa bondosa senhora chamada Alice Silva
Prado,
ela nos ensinará a cura pelas ervas medicinais.
Irá também contar
histórias da infância no campo,
das bonecas de palha,
das fugas do Saci-Pererê,
dos cavalos
e das plantações de café.
Eu nunca tive nenhuma conversa longa ou
densa com ela,
mas confio que ela seja uma mulher com uma vida muito
interessante para contar.
Essa carta irá explodir em um minuto.
Não
tenha medo do vácuo, é de onde viemos.
Ele nos acolhe como uma mãe,
nos guia
como um pai.
Seu abraço é frio, mas completo.
Sua completude pode parecer
enorme,
mas confie em mim,
é do mesmo tamanho para mim, para você, para uma
formiga, para um pássaro ou um mamute.
Não apresse sua chegada,
é uma dama que
chega exatamente no horário combinado.
Nem tarde, nem cedo.
Os abismos em seus
olhos possam assustas,
às vezes,
mas pode ser um conforto.
Não faz dela um
monstro ou uma dor.
Não tenha medo, ela virá de qualquer jeito.
É passiva é
atenciosa.
Ouve-te como ninguém jamais ouviu.
Não a irrite, ela não gosta de
insistências.
Gosta que chegue a seus braços com graça e delicadeza.
Ela tem o
porte de um cavalheiro,
não gosta de ser abordado, gosta de abordar.
Não fique
em luto com seus presentes, não se apavore com sua presença.
Essa carta está explodindo. Bem-vindo.